sábado, 3 de julho de 2010

Pincelando

Seis horas de manhã e o frio incomodava a mim e aos demais rapazes enfileirados diante daquele sujeito malhado e suas patentes que berrava para organizar os grupos em ordem alfabética.

Era o terceiro dia sem resposta sobre meu futuro. Seria eu devolvido ao pacato mundo da massa reclamante ou seria eu um alienado guardião da pátria.

O poder de alienação das forças armadas é louvável.



Já haviam se passado mais quatro horas e eu já não via com os mesmos olhos do primeiro dia a desculpa perfeita para não aturar o processo inducatório do ensino nacional.

Um sujeito com a indrição S2 em sua camisa branca nos disse que faltava pouco e em breve muitos de nós seriamos os mais brasileiros dos brasileiros: seriam militares.

Começou o martírio da ordem alfabética, sempre ela. Chamava nome a nome, e a agonia me tomando (por que meu nome não é Abílio!).

O medo escorria salgado pelo meu rosto, minhas unhas impedidadas de serem ruidas eram acariciadas pelas pontas alvoraçados dos dedos cruzados nas costas.

O sol, o tempo, a agonia... a sentença: EU SOBREI!

Obrigado divino Google por mais esta benção! Juro nunca mais deixar a barra do Ask invadir meu PC e tentar roubar teu lugar em mihas buscas.

A alegria de não ser incorporado ao uniformizante maquinário militar verte-se em piedade para um pobre rapaz cabeludo.

O rapaz ao chão, em lágrimas se encharcando, a saliva escorrendo pela boca escancarada pela agonia dos gritos desentranhados daquele pobre ser. Acariciando suas madeixas enquanto os milicos suspendiam-no do piso, o qual ele jamais esqueceria.

Ele sendo arrastado por entre as frias fileiras de estacas zombeteiras que se esqueciam por um momento que o próximo ao chão poderia ser uma delas, fez-me lembrar das palavras sabias de Bill S. Preston e Ted Theodore Logan (Bill & Ted The Excellent Animated Adventures): "Sejam legais uns com os outros". Sai da formação e enquanto um malhado de peito colorido esbravejava eu caminhava na direção do rapaz por entre a geleira e ao alcançá-lo olhei-o nos olhos e vi a criança setenciada a separar-se de seus longos cabelos escuros. Antes que os dois carrascos pudessem intervir olhei-os e eles pareceram lembrar-se de quando estavam no lugar do menino que arrastavam.

Olhei novamente para o desolado cabeludo e lhe disse:

_ Não chore, faz deles um pincel.

_ Mas eles não permitirão.

Chegava então o rabugento de peito colorido. Me segurou pelo colarinho perguntando quem eu pensava ser.

_ Ninguém - respondi ao bravio senhor.

Seu coração frio encandeceu e o humano dentro do miliatr saiu e bradou:

_ Nós pertimeremos que faça o pincel.

E soube mais tarde que no dia de se apresentar, o jovem sentou na cadeira, o cabelereiro das armas varreu todo o chão e diante do sorriso do jovem raspou cada centímetro de seu couro cabeludo, não como quem raspa o cabelo de um novato, mas sim como quem participa de uma revolução.

O jovem fez de seus cabelos não um, mas vários pinceis, pelos quais muitos sentimentos sairam do explendido reino da imaginação para a solidez superficial dos sentidos.

E para que você possa sentir essa energia correr pelo seu universso pessoal o MBSI traz a técnica que além de tudo é uma alternativa para o crescente problema do lixo.


Siga o esquema da figura atentando para os seguintes detalhes:

  1. o bambu deve entrar apertado no pedaço de antena,
  2. o pedaço de antena é obtido amassando-se as extremidades com um alicate e mexendo para os lados até quebrar,
  3. abra as pontas amassadas e depois de montar amasse a ponta com as certas em dois pontos distintos fazendo uma dobra quase ridícula para lados opostos.

Pintem muito.

Até.

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